terça-feira, 19 de julho de 2011

"O poder dos Sois" - Como a mecânica alcançou o Roleplay

Enquanto fazia uma pesquisa aleatória a partir do termo "jogos de interpretação" encontrei um site chamado SCN com um artigo chamado JOGOS DE INTERPRETAÇÃO DE PAPÉIS E SIMULAÇÃO: Uma Técnica de Treinamento. Neste artigo o autor fala sobre a vantagem de se utilizar esse tipo de jogo para preparar as pessoas para situações de uma forma que se aproxima muito da situação real. Achei interessante a utilização desse tipo de instrumento vindo de uma área mais corporativa, apesar de que durante o texto também é indicado utilizar para sala de aula.
Mas o que achei muito bacana foi a citação de texto chamado "The power of suns in the Sixties" escrito por Phil Bartle, que fala de um jogo chamado "O poder dos Sóis" e o indica como sendo, provavelmente, um dos primeiros jogos de simulação existente.

"O poder dos Sóis", originalmente chamado "The power of Suns", foi criado por volta dos anos 60, e, apesar de não ter indicação de quem foram os desenvolvedores, sua origem é a comunidade de ciências sociais de Berkeley, universidade localizada na Califórnia. Mesmo surgindo na América, foi no Canadá que atingiu sua máxima potência.

Nesta época, um grupo chamado "The fraser group" tentava encontrar um meio de mostrar as pessoas as desigualdades e injustiças da sociedade. E foi nesse momento que alguém apareceu com uma folha de papel contendo a descrição do "O poder dos sóis".

Versão original:

O Jogo original era simples, apenas para umas 30 pessoas, com duração de até 3 horas e funcionava (quase como um jogo de cartas):
Os jogadores recebem sacos com fichas que tem diferentes valores, e começam a estabelecer trocas entre si durante um tempo. Quando o tempo acaba eles são classificados em três grupos a partir da pontuação adquirida. Isso acontece algumas vezes e, a cada rodada o grupo que obteve mais pontos ganha um prêmio. Mas o grande lance é que a mecânica do jogo força os jogadores de maior pontuação a continuarem ganhando e mantém os outros grupos estagnados, logo, os mais pobres acham que estão sendo roubados. Desta forma cria-se uma discussão sobre os problemas sociais.

Mas até ai parece um simples jogo educativo, não tem interpretação, personagens, cenário. Ora, isso não é um Larp!!! Então o que será que me chamou a atenção?????
A relação com o larp começa quando a idéia cresce um pouco mais.

Versão madura:

Alguém muito entusiasmado resolveu combinar: 100 estudantes, 2 semanas e uma área utilizada para treinamento militar.
Bem, poderia continuar sendo a mesma coisa em um tamanho maior, mas foram acrescentados alguns elementos reais, e ai tudo ficou diferente.

Foram separados 5 grupos, também dividos pela pontuação, cada um ficou em um espaço desta área militar, sendo que, os mais pontuados tinham comida de sobra e muito conforto, e os menos pontuados tinham apenas o suficiente para sobreviver.

Partindo disso a história foi contada por si só.

O comentário do autor sobre o resultado é o seguinte:
“Os resultados foram espetaculares, os jogadores das nações mais ricas começaram agir como fascistas, e roubos foram organizados pelas nações pobres para saquear suprimentos.
De tão intenso, o jogo teve que ser parado depois de uma semana, em vez de duas, e muitas horas de discussão foram necessárias no dia seguinte para relatar os acontecimentos.
Foi irônico que o jovem que se tornou o presidente dos mais ricos, acabou agindo como um ditador totalitário, para seu próprio constrangimento, porque, como explicou durante o interrogatório, ele era um ativista socialista na vida real.
No entanto, ele foi totalmente absorvido pelo jogo.”
É desnecessário dizer que conseguir os recursos comparáveis ao dessa experiência é para poucos. O fato é que seria muito difícil fazer com que os mesmos jogadores alcançassem esse grau de empolgação, se, ao invés do cenário e da mecânica, eles recebessem fichas com uma história super elaborada explicando como funciona a separação entre cada classe dos personagens. O que pode ser aprendido é que um jogo com uma mecânica que si sustente somado a um ambiente propício pode resultar em uma ótima imersão.

Muitas vezes nos preocupamos em demasia com o tamanho do background do personagem ou em criar histórias que justifiquem a trama do jogo, sem perceber que se o jogador tiver que ficar lembrando de muitas coisas ao mesmo tempo sem o tempo e a preparação necessária, das duas uma, ou não vai conseguir prestar atenção nos acontecimentos do jogo, ou simplesmente deixará o que não lembrar de lado e jogar assim mesmo, isso pode ser prejudicial para o desenrolar dos plots.

Não estou dizendo que acho isso errado, afinal cada jogo possui diferentes propostas e formas de alcançá-las, todavia é preciso pensar que às vezes "menos é mais".

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